
Quando a moça da cidade chegou
veio morar na fazenda,
na casa velha...
Tão velha !
Quem fez aquela casa foi o bisavô...
Deram-lhe para dormir a
camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única
portinha...
A moça não disse nada,
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro...
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade...
Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que, ao meio-dia, aparece
uma renda de arabesco de sol nos ladrilhos vermelhos,
que - coitados - tão velhos
só hoje é que conhecem a luz do dia...
A luz branca e fria
também se mete ás vezes pelo clarão
da telha milagrosa...
careteia
no espelho onde a moça se penteia.
Que linda camarinha! Era tão feia !
- Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão cinzenta,
fria,
sem um luar, sem um clarão...
Por que você não experimenta ?
A moça foi tão bem sucedida...
Ponha uma telha de vidro em sua vida !
Raquel de Queiroz - Nasceu 17.11.1910
Faleceu 04.11.2003
É sempre bom ler Raquel de Queiroz.
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